Sertão de Canudos/BA
As fotografias apresentadas neste ensaio foram realizadas em dois períodos, 1989 (B&W) e 2016(Color), no sertão da Bahia, Brasil, onde ocorreu a Guerra de Canudos há 120 anos atrás. O trajeto que realizei nos dois momentos foi o mesmo feito pela quarta expedição militar do exército brasileiro que dizimou o arraial de Canudos em 1897. Nessa época a República estava recém implantada e os militares precisaram de quatro batalhas para derrotar o vilarejo, onde os sertanejos, sob a liderança de Antonio Conselheiro, armados de paus, espingardas e facões, venceram as três primeiras expedições militares. Nesse povoado se juntavam pobres castigados pela seca e fome. A escravidão havia acabado poucos anos antes no país, e pelas estradas e sertões, vagavam grupos de ex-escravos. Excluídos do acesso à terra e com reduzidas oportunidades de trabalho, acreditavam com esperança nas pregações de Antonio Conselheiro. O povoado tornou-se uma ameaça ao governo republicano, uma vez que os sertanejos lutavam para não pagar impostos. Conselheiro era contra o casamento civil e, como um bom beato, se dizia um enviado de Deus. Aos olhos do governo da Bahia, dos latifundiários e da Igreja, o agrupamento era visto como um ninho de rebeldes que precisava ser eliminado. A quarta expedição fez o cerco decisivo e derrotou os sertanejos. O sertão virou um mar de sangue. Vinte mil jagunços e cinco mil soldados foram mortos.
As fotografias feitas nos dois períodos demarcam as mudanças na região. A volta ao sertão depois de 27 anos, me possibilitou interações significativas: cinco pessoas foram reencontradas e puderam ser fotografadas com suas fotos antigas projetadas sobre elas, o que lhes causou emoção. Muitas correlações visuais puderam ser percebidas no cenário da região que geraram novas imagens coloridas em torno dos temas sobre o homem, a guerra, o mito e a terra.